Teatro da Vida
Uma vez Charlie Chaplin disse: "A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso cante, chore, dance, ria e viva intensamente; antes que a cortina se feche e a peça acabe sem aplausos." Esta é uma das minhas frases favoritas em toda a história. Isto é complicado de se afirmar quando tenho em conta que a minha vida anda a volta de ler e escrever.
O que me leva portanto a ficar encantado com esta frase é a quantidade de camadas que ela tem de uma forma simplista. Primeiro a vida é como uma peça de teatro porque estamos constantemente a ter de cumprir papéis ao longo da nossa vida, uns escolhidos por nós e outros que nos são entregues sem direito a qualquer opinião sobre o assunto. Sou um pai, sou um escritor, sou vocalista e tantos outros papéis que eu desempenho naquela que é a minha história, mas como qualquer um, sou apenas um homem comum como já referi anteriormente neste blogue.
Cada um de nós faz o melhor para desempenhar de forma assertiva e eficiente os tais papéis que tem de desempenhar na sua história. Tal como todos os outros a minha volta, ou pelo menos é a perspectiva que tenho sobre a vida até este momento, ando sempre a inventar formas de viver os meus papéis, porque tal como no teatro, muitas vezes o papel está escrito mas a genialidade da peça vem da capacidade de interpretação e improviso de quem o interpreta.
A nossa história é escrita por nós como todos dizem, mas também é escrita pelo contexto social em que estamos inseridos, principalmente as personagens que passam a fazer parte dessa jornada, quer seja de forma leviana ou mais destacada. Todos sabemos disto mas muitas vezes não nos lembramos que essas outras personagens na nossa vida são a personagem principal na suas próprias peças, e isto sendo um efeito transversal a experiência humana, então todos vivemos a nossa vida como personagens principais.
Ao contrário de uma peça de teatro, um filme, série ou qualquer narrativa de valor, não existe personagens principais nesta realidade em que nos inserimos. Apenas papéis vividos por cada um e para cada um de nós ou pelo menos é a minha modesta opinião sobre o assunto.
Hoje em dia estou inserido num contexto de extrema valorização do próprio enredo agregado a uma necessidade doentia de validação da sua historia e do seu caminho perante um outro, quer sejam seus pares ou até desconhecidos que habitam na internet.
Existe uma necessidade, que roça o absurdismo, de cada um sentir que a sua vida tem significado porque fez x ou é y. Na verdade a vida de cada um é importante porque a pessoa a viveu, porque tem a sua própria história, porque conheceu e interagiu e interligou o seu enredo com o de outros, quer seja de forma mais ou menos relevante num contexto social.
Tal como disse anteriormente o génio do teatro vem da interpretação de cada um, porque normalmente as peças clássicas são as mesmas durante séculos, tal como acontece, por exemplo, com a musica de orquestra (ou clássica se assim quiserem embora acho isso redundante).
Muitas vezes, ao longo da nossa vida, estamos constantemente a queixar do enredo que nos foi entregue ou da nossa história "porque viemos dali ou aconteceu aquilo" quando no final do dia o segredo é o que vamos ser capazes de fazer ou não com o papel que nos foi entregue.
Com tudo isto o que quero dizer é, deixem de estar tão preocupados com o que acham sobre a vossa história e procurem apenas viver ela da forma mais natural, sincera e preenchida para vocês mesmos, porque no final do dia se tiverem sempre só a agradar o publico nunca vão aproveitar o vosso momento em palco e um dia, quando menos esperamos a peça acaba e a cortina cai de vez.
Quando a cortina fechar para mim quero ter a certeza que por mais perdido que me sentisse na minha performance pelo menos aproveitei, vi a reacção do publico mas acima de tudo cumpri o meu papel de forma honesta e sincera para comigo. Em relação a aceitação do publico isso fica para os outros, até porque muitas histórias só recebem louros depois da história já ter cessado faz tempo.
Aliás se formos bem a ver, a maior parte das histórias só fazem realmente sentido depois de terem acabado, porque ninguém quer saber de um livro a meio ou um filme sem final, por isso nunca vamos saber se aplaudiram ou apuparam a nossa performance. Sendo assim, o que temos a perder?
Um por Todos, Hoje e para Sempre